7 Mitos sobre a sua coluna

Frente a uma dor nas costas é palpável a vontade dos doentes de saberem tudo sobre a causa deste sofrimento. Os melhores tratamentos? A causa? O que alivia? O que não deve fazer?

Entre pesquisas frenéticas e conversas assustadoras, as informações abundam e as opiniões divergem. Entre o cair da folha e o renascer da flor à desculpa da idade, todos os pretextos são válidos para justificar as dores vertebrais, mas será que é mesmo assim?

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Dissipe as suas dúvidas com 7 mitos frequentes associados às dores vertebrais.

Vire as costas à dor.

 

  • Mito 1: Em caso de dor nas costas, o descanso é o melhor remédio?

Ainda que os casos agudos necessitem de um ou dois dias de descanso, é imprescindível voltar à atividade. De facto, é essencial combater a rigidez e solicitar o sistema muscular com pequenos alongamentos numa primeira fase. Neste campo, a caminhada reúne todos os ingredientes cruciais para uma recuperação, aliando a tonificação e oxigenação muscular, o relaxamento e proprioceção ligamentar com a reeducação articular dos micromovimentos. Além disso, em casos de hérnias discais, os movimentos da coluna vertebral permitem uma hidratação do disco intervertebral.

 

  • Mito 2: Deve-se por completo ao excesso de peso?

O excesso de peso contribui para o desenvolvimento de dores vertebrais, contudo, representa apenas um fator numa lista extensa e não a causa. Mais do que a obesidade, o sedentarismo é o principal fator, causando um enfraquecimento prematuro das estruturas ósseas e da musculatura. De facto, o sistema musculoesquelético adapta-se ao longo da vida ao nosso peso e à solicitação, exemplo disso são os pesos pesados nas diversas modalidades olímpicas que não apresentam transtornos particulares na coluna.

Está a pensar nas grávidas? Mais do que o peso, é o facto de esta sobrecarga exercer uma tração para a frente, obrigando a futura mãe a aumentar a curvatura lombar e a modificar o seu centro de gravidade.

 

  • Mito 3: A atividade física reduz as dores?

A falta de desporto é frequentemente associada ao aparecimento de transtornos vertebrais, contudo, estatisticamente, terá mais probabilidades de desenvolver dores nas costas se trabalha na construção civil do que numa secretária. Aliás, a prática desportiva é uma das primeiras causas de síndromes vertebrais, tendo por grande defeito a tentativa de realizar uma atividade física intensa num curto espaço de tempo, sem a preparação e alimentação adequadas. Contudo, o desporto é benéfico para a sua saúde desde que seja praticado com moderação, equilíbrio e adaptado ao seu corpo. Aposte num treino moderado, regular, afim de, não só, reforçar, como esticar e relaxar a musculatura.

O exemplo mais flagrante é o lema da piscina, opinião minha sobre um mito secular na correção e diminuição da escoliose. Os benefícios da água no relaxamento muscular são milenares e contra isso não existem argumentos, tanto como no reforço dos músculos estabilizadores da coluna. No entanto, as aptidões aquáticas dos portugueses restringem-se maioritariamente à modalidade de bruços que cria uma pressão na coluna cervical e hiperextensão da coluna vertebral, despertando ainda mais dores. Ou seja, compensa-se a falta de técnica por um esforço excessivo, opte pelos estilos de crawl ou costas, ou prefira uma ginástica moderada dentro de água.

 

  • Mito 4: Para me tratar, devo obrigatoriamente efetuar uma radiografia, uma ressonância ou TAC?

Na maioria dos casos, não é necessário recorrer a exames complementares. Não obstante, em traumatismos, quedas ou acidentes de viação sejam imprescindíveis. De facto, um exame clínico físico permite determinar a causa da sua lombalgia, cervicalgia ou dorsalgia através de testes específicos em ortopedia associados a um exame físico rigoroso. Aliás, durante a consulta com o seu médico, o interrogatório sobre as circunstâncias de aparecimento, o horário da dor, os movimentos dolorosos e tantos outros detalhes (a lista é demasiado extensa) especificam o diagnóstico.

Contudo, numa idade avançada ou frente a uma cronicidade das dores, os exames complementares são uma fonte valiosa de informação. Ou melhor, complementaridade é a palavra-chave.

 

  • Mito 5: Dor de costas = Cirurgia?

Não obstante, não consideraremos os colegas que sofrem de ‘bisturite aguda’, a cirurgia é apenas recomendada em cerca de 1 a 2% dos casos, em quadros particulares e com diagnósticos peculiares… Aliás, mais de 90% das dores nas costas melhoram com tratamentos conservadores, analgésicos, anti-inflamatórios, exercício e terapias manuais. Somente se coloca a hipótese de proceder a uma intervenção cirúrgica após esgotar todas as possibilidades de tratamentos conservadores.

Contudo, é necessário repor algumas verdades sobre o ato cirúrgico: o risco de complicações é inerente em todas as cirurgias, desde os coágulos às infeções, assim como, quando atravessa na passadeira existe um risco de atropelamento. A paralisia, complicação mais receada pelos utentes é, de facto, uma das menos presumíveis de acontecer, uma vez que grande número de cirurgias vertebrais não envolvem o manuseamento da medula espinal, isto sem relatar a sofisticação dos equipamentos e dispositivos de imagem que permitem intervenções com eficiência e segurança. No entanto, pondere sempre a difícil equação dos riscos e dos benefícios.

Recorde-se de que nem todos os especialistas da coluna são cirurgiões, médicos, reumatologistas, ortopedistas, neurologistas, fisiatras, fisioterapeutas e, até mesmo osteopatas, conceberão um protocolo de tratamento sem recurso à cirurgia para erradicar as suas dores vertebrais, quando tal é possível.

 

  • Mito 6: A dor nas costas é fruto da idade?

Todos sabemos que o envelhecimento se repercute no nosso esqueleto e sistema muscular, sendo um fator de risco pelo desgaste natural dos ossos e diminuição da flexibilidade, elasticidade dos músculos e tendões. Contudo, estar aposentado e pertencer ao grupo dos seniores não constitui uma condição para sofrer da sua coluna vertebral. Aliás, um estudo de 2012, do Journal Chiropractic & Manual Therapies, vem confirmar que as dores vertebrais já não são tão comuns em utentes de idade avançada quanto em idade média, tendo a pesquisa demonstrado que existe uma tendência para as dores vertebrais diminuírem em pessoas idosas.

Porém, a palavra-chave para desfrutar da reforma sem dores é a prevenção.

 

 

 

  • Mito 7: Para não ter dores nas costas, terei que substituir o colchão, a almofada e a cadeira da secretária?

Na Zen Energy, já abordámos as diferentes posturas à secretária e a escolha do seu colchão, todos eles com impacto no seu quotidiano. Contudo, seria um quanto redutor, frente à complexidade do nosso corpo humano apontar como único ingrediente para a sua lombalgia ou hérnia discal, a sua almofada, o assento do seu automóvel…  Por um lado, imagine-se nas urgências após uma crise vertebral, sendo assediado por revendedores de colchões, o que seria de todo hilariante. De facto, este exemplo caricato é a melhor forma de perceber que a dor vertebral é multifatorial: a sua postura, a sua profissão, o seu sedentarismo, o seu património genético, a sua alimentação, o seu exercício físico e tantos outros representam elementos suscetíveis de desencadear dores nas costas. Antes de iniciar mudanças radicais, aconselhe-se perto de profissionais de saúde que o ajudarão a entender os seus desequilíbrios posturais e as medidas a adotar. A ideia de que um colchão duro é melhor para a sua coluna constitui um dos principais erros de investimento na sua saúde, mas essa parte já sabe, pois é fiel à sua revista Zen.

 

Nota: A osteopatia não substitui a consulta ao seu médico e o uso de medicamentos.

Este artigo representa somente a opinião e experiência do seu autor.

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Daniel Valpaços

Licenciado em Osteopatia pelo I.P.E.O Paris

Osteopata na Clínica Privada de Guimarães

Consultório São João da Madeira

www.osteopataportugal.pt

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