Uma viagem à Índia
A Índia é um país mágico, a este local pode mesmo aplicar-se a expressão – ‘primeiro estranha-se, depois entranha-se’. Dois meses foi o tempo suficiente para perceber por que razões as pessoas procuram este gigante e transformador local.

Na Índia é muito natural ver pessoas sozinhas, quer homens quer mulheres.

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As pessoas escolhem este sítio, porque estão em busca de si próprias, querem sentir que não vivem só por viver, pretendem despertar, pretendem saber quem são, pretendem liberdade, pretendem descobrir o amor a outros níveis – amor pela vida, amor por si mesmas, amor pelos outros, de uma forma desprendida e sem desejar nada em troca. E é curioso, de facto, esses sentimentos são rápidos de encontrar quando se mergulha num mundo tão espiritual como é a Índia, num mundo onde não existem fronteiras, raças, cores, cargos, todos somos iguais. Pelo menos, em Rishikesh, capital do yoga, este é o sentimento que se vive. Sentimo-nos em casa, medita-se em qualquer lado a qualquer hora. Não há medo de se fazer perguntas, nem vergonha de ir atrás das respostas. As pessoas procuram um contacto profundo com as suas almas, procuram saber mais sobre o tema espiritualidade, sobre o amor, sobre a vida, procuram desenvolver a consciência e o autoconhecimento.
A humildade é também uma imagem de marca, quer nos locais, nos gurus, nos professores, nos mestres, quer nos turistas que decidem mergulhar nesta cultura. A intensidade com que vivemos naquela realidade é indescritível…É tão bonito quando vamos até às margens do rio Ganges e encontramos pessoas de todo o lado – indianos, russos, brasileiros, americanos, portugueses, ingleses, israelitas, italianos, espanhóis, costa-riquenhos, todos eles  com o mesmo propósito e com a mesma vontade, todos eles ‘perdidos’ com o seu olhar no fluir da água que corre, e em simultâneo com um sentimento de real encontro com as suas almas. Sim, na Índia fala-se em almas sem pudor, ninguém tem vergonha de falar em Deus, no Universo, no poder da atração. Aqui, essa linguagem não é estranha, é comum, é mágica. O que não é normal é a crítica, a separação, a censura, a superioridade, a arrogância. As pessoas dão e abrem-se para receber, as pessoas reconhecem a beleza que existe dentro de cada ser humano e não se retraem a espalhar amor. É natural espalhar abraços, sorrisos, elogios. Na Índia vive-se uma espécie de mundo considerado utópico e quem lá foi sabe do que falo. Pessoas de todo o mundo encontram-se para unir o mundo, para esquecer as diferentes línguas, pois a língua é sempre a mesma, é a única língua universal que todos podemos compreender, que todos falamos – a língua do amor.

 

O sentimento de igualdade
Nesta viagem à Índia adorei sentir que ali não existiam cargos, não existem Doutores nem Engenheiros, pelo contrário, o sentimento de igualdade imperava nas ruas, o sentimento de partilha era tão autêntico, tão verdadeiro, tão natural. É tão curioso como os hindus abraçam qualquer pessoa, independentemente da religião que ela tenha eles aceitam e até tentam crescer connosco, apesar de nos ensinarem muito no campo da espiritualidade, da entrega e da fé, eles consideram que podem aprender com cada turista que ali vai, o que de facto é verdade, todos os dias estamos a aprender com alguém, mas é bonito ver essa humildades nos mestres e gurus. Não importa se as pessoas estão cheias de tatuagens, de piercings, vestidas de branco ou de preto. Somos todos iguais – lá somos encarados como almas e as almas não têm adereços.
É isso que sinto, ao contrário de outros locais no mundo, na Índia, os adereços, as roupas, as opções de cada um não ditam o que eles são, nem o que eles valem. O normal na Índia é cuidar das nossas almas e do seu brilho, é cuidar da nossa mente e da sua serenidade, é cuidar do nosso corpo e da sua saúde. É normal falar em Deus, no Universo, nas leis da vida, é natural falar da energia, é natural expor medos, inseguranças, mágoas, revoltas, crises existenciais, é natural não ter respostas, é natural dizer que não se sabe e que se quer aprender.

 

Encontro com o espírito
Algumas pessoas fazem uma viagem à Índia para se encontrar, porque lá o encontro com o nosso espírito é promovido e incentivado. Os Ashrams chai oferecem-nos yoga, meditação e palestras onde se fazem perguntas de todo o tipo. Assisti a uma palestra magnífica onde pudemos debater a homossexualidade, o sexo, a poluição do rio Ganges, a fome, a pobreza. Eles abraçaram as perguntas com amor, sem tabus, sem crítica e abraçaram também as pessoas que colocavam as questões, eles não se recusaram a responder a qualquer pergunta, por mais delicada que fosse, eles respondiam sem desviar o assunto. Numa dessas palestras, um dos gurus mostrou-se emocionado e feliz por ver a forma como o mundo, como, inclusive, os jovens se estavam a abrir para a espiritualidade, para a meditação, para a saúde mental. Nestas palestras a que assistia, adorava a diversidade de idades e de estilos, vi jovens entre os 16 e 18 anos, vi adultos na faixa dos 20 aos 60 anos, todos eles mostravam no olhar uma sede de viver, de aprender, de amar, de ser melhor. O meu sentimento era exatamente o mesmo, não podia observar os meus olhos, mas podia sentir o meu coração e o amor que transbordava em mim pelas pessoas que se atravessavam no meu caminho, esse amor era inexplicável, era real, era puro, era e foi uma forma poderosa de me ligar a este mundo onde vivo, onde nós vivemos.
Não estou a dizer que ‘tudo é um mar de rosas’, porque não é. Vive-se altos e baixos, mas os altos acabam por compensar os baixos e é por isso que todas as pessoas voltam, as pessoas que fui conhecendo; é muito fácil conhecer pessoas na Índia, paramos para beber um (típica bebida, chá do país) e quando damos conta estamos numa longa conversa com outros turistas que se encontram ali a usufruir dos terraços, varandas e da vista do Ganges; quase todos eles me disseram que não era o primeiro ano ali e que todos os anos voltavam, voltavam porque se sentem em casa, porque vivem experiências únicas, porque não param de aprender e porque, em simultâneo, experienciam aquela que é considerada a utópica, mas linda música de John Lennon – Imagine. A letra diz:

 

«Imagine todas as pessoas a viver no presente

Imagine se não houvesse nenhum país

(…) Nem religião também

Imagine todas as pessoas a viver a vida em paz

(…) Imagine todas as pessoas partilhando todo o mundo (…)»

 

 

«Vivi grandes experiências na Índia»

Confesso que, nesta viagem à Índia, houve momentos em que senti que isto não é utópico e sim, possível, confesso que houve momentos em que me senti a viver num mundo sem fronteiras, sem religiões que separam o Homem, pois ninguém se preocupava com as crenças do outro, falávamos em Deus sem discutir o que era, ou não, certo e verdadeiro, não importava quem era cristão, hindu, jeová ou judeu, isso não tinha qualquer importância. O que era importante era o crescimento, o amor, a fé, a entrega, o despir de preconceitos. Vi tantos jovens preocupados com o mundo onde vivem, preocupados em torná-lo melhor, em protegê-lo.

Vi também pobreza, aliás, miséria, não posso fingir que essa parte não estava lá, até porque essa parte mexeu profundamente comigo, penso que mexeria com qualquer um. Muitas vezes, oiço pessoas queixarem-se, chorarem até, porque não podem, por exemplo, dar uns ténis de marca aos filhos. Se essas pessoas mergulhassem na realidade da Índia, perceberiam que isso não é um motivo para choros nem lamentos, perceberiam que nos devíamos sentir imensamente gratos por ter casa, comida, roupa, calçado. Lamentamos muitas vezes não ter o que o vizinho do lado tem, considerando que a nossa felicidade está nesse objeto, pura ilusão de uma alma que não se encontrou e que procura artefactos para criar uma felicidade, felicidade essa que é temporária. Essa foi outra das grandes experiências que vivi na Índia – o despojamento, o dormir em locais dos mais simples e humildes que existem, eu queria ter essa experiência e tive. Eu não quis fugir da pobreza, é importante não fugirmos dessa realidade, primeiro, para perceber o que podemos fazer para contribuir e, segundo, para não nos queixarmos do que não temos, quando na verdade, se calhar, nem sabemos, de facto, o que é nada ter. Vi crianças a dormir debaixo de um mero toldo só em cuecas, sem quarto, cozinha, nem casa de banho, viviam assim à beira de uma estrada ruidosa e movimentada, expostas ao mundo sem qualquer conforto. Depararmo-nos com esta realidade é um murro no estômago e muitas vezes esse murro derruba o nosso muro das lamentações e que assim seja.

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Rute Caldeira

Mestre de Reiki, Instrutora de Yoga, Leitora de energia,

Facilitadora da Cura Reconetiva e Reconexão

umadietaespiritual.blogspot.pt/

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