Bem-estar emocional
A gratidão é essencial ao bem-estar emocional e agradecer diariamente à vida por todas as coisas, inclusive as mais simples e as mais difíceis, constitui uma das chaves para alcançar momentos de felicidade.
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As dificuldades da vida podem ser valiosas, porque são essas as experiências que nos fortalecem e nos libertam das limitações mentais. Sentirmo-nos mal com alguém, ou com algo, apenas acontece porque criámos um sistema de crenças que se constitui numa grande limitação mental que nos leva a julgar e a rejeitar. Perceber esse mecanismo mental é muito importante.
Os momentos difíceis que atravessamos, bem como todas as situações de confronto, geram um mal-estar óbvio dentro de nós. Porém, se revirmos o nosso sistema de crenças e analisarmos os acontecimentos a partir da sabedoria interior, vemos que somos nós quem escolhemos sentirmo-nos mal com algo ou com alguém e que também somos nós que nos apegamos a esse sentimento, guardando-o no nosso coração e convertendo-o numa carga pesada. Somos também os únicos que nos podemos libertar da mesma, direcionando o nosso pensamento e as nossas acções para a aprendizagem que nos deixaram e agradecendo esta desde o coração.
Gratidão e psicologia positiva
A ‘gratidão’ é um sentimento, uma emoção, uma atitude de reconhecimento de um benefício que se recebeu ou que se irá receber.
Historicamente, a experiência da gratidão tem sido foco de várias das religiões mundiais e foi ainda estudada pelos filósofos da moral, como Adam Smith.
Curiosamente, só por volta do ano 2000 se iniciou um estudo sistemático da ‘gratidão’ ao nível da Psicologia, dado que até há pouco tempo esta se centrou mais na compreensão dos sentimentos desagradáveis do que em entender as emoções humanas positivas.
A palavra ‘gratidão’ remete-me, então, para a psicologia positiva, que se centrou na compreensão da experiência a curto prazo da emoção da gratidão. De acordo com o psicólogo americano Martin Seligman, a psicologia positiva está interessada nas forças e nos potenciais do ser humano, na reparação de eventuais danos e no potenciar dos melhores aspectos da vida. Apesar das dificuldades existentes, é possível gerar uma mentalidade positiva sobre os acontecimentos e o ambiente que nos rodeia e uma forma de o fazer é deixar de perguntar: «Porquê a mim?» e antes indagar: «O que posso aprender com esta situação?». Se bem que não podemos controlar o que a vida tem preparado para nós, controlamos, sim, a atitude com a qual enfrentamos as diferentes situações da vida.
Um estudo publicado na revista American Psychologiste levado a cabo por Seligman, Peterson e Steen, percursores da psicologia positiva, mostra que visitar alguém próximo e expressar-lhe gratidão, aumenta a felicidade e diminui os sintomas de depressão, sobretudo quando esta prática é regular.
Outros estudos experimentais revelam que os sentimentos de gratidão aumentam a resiliência, a saúde física e a qualidade do quotidiano. Para alguns especialistas, a gratidão ajuda as pessoas a responder mais positivamente aos acontecimentos da vida, servindo de protecção para situações adversas e aumentando a capacidade de resiliência.
Por outro lado, a gratidão contagia e abre-nos as portas do coração, facilitando uma expansão da consciência face ao todo que a vida nos oferece diariamente e que muitas vezes é profundo, apesar de subtil, passando desapercebido quando estamos ‘mais distraídos’.
A vida é como um registo de electrocardiograma, cheia de ‘altos e baixos’, por isso, aprendamos com o bater do nosso coração e vivamos a vida com maior intensidade e com uma maior consciência do presente.
Os benefícios de um cérebro agradecido
Um artigo publicado na revista Psychology Today e escrito por Alex Korb começa por dizer: «Dê-se um momento para dar graças, porque pode ler este artigo». De acordo com este neurocientista, praticar a gratidão com frequência mantém as pessoas felizes e saudáveis, algo que o estudo de Emmons & McCullough, 2003, parece provar. Estes investigadores norte-americanos formaram dois grupos: a um deram um caderno para anotar as coisas pelas quais deveriam estar agradecidos diariamente e, ao outro, pediram para escrever as coisas que os incomodavam. O estudo demonstrou que o primeiro grupo começou a mostrar um incremento na sua determinação, atenção, entusiasmo e energia, comparativamente com o segundo.
Um outro estudo interessante, levado a cabo pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, passou pela análise das funções cerebrais, enquanto estes experimentaram sentimentos de gratidão: os sujeitos mais agradecidos revelaram uma maior actividade ao nível do hipotálamo que controla funções, como comer, beber, dormir e que influencia o metabolismo e os níveis de stress. Conclusão: agradecer por tudo o que temos influencia positivamente as doenças físicas, as dores e diminui a sensação de depressão.
Tal como uma criança, o cérebro ‘distrai-se com facilidade’… assim, se alguém for uma pessoa agradecida, não terá tempo para pensar em sensações negativas e cria um ‘círculo virtuoso’ no qual, se começa a ser agradecido, continuará a procurar coisas para agradecer. Como o cérebro humano é muito adaptável, a gratidão frequente converter-se-á num bom costume.
Estar grato não significa comparar-se com outros que estão numa situação difícil e sim apreciar os aspectos positivos da situação actual. Este tipo de atitude pode, inclusive, trazer benefícios físicos, como a diminuição e desaparecimento de certas doenças. Apreciar os aspectos positivos da nossa situação de vida actual e manter um ‘diário de gratidão’ no qual registar experiências de vida que permitem aprendizagem, fomenta um estado de ânimo de gratidão que predispõe à boa disposição e que, a médio e longo prazo, diminui estados de ansiedade, humor depressivo, dores físicas psicossomáticas, distúrbios do sono, produzindo um maior bem-estar geral. De alguma forma, um estado de agradecimento e gratidão dá menos espaço à eclosão de pensamentos e sentimentos negativos.
Quem se atreve?
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Lúcia da Costa Soares
Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta, Terapeuta Transpessoal