O Não Se Esqueça da Escova de Dentes foi a prova de que em televisão, por mais que se esteja preparado para tudo, nunca se está preparado para TUDO!

Eu ainda sinto um calafrio quando se recordo aquele escaldante Não Se Esqueça da Escova de Dentes, em que dois rapazes e uma rapariga, verdadeiros fãs do programa, não só deram a camisa pelo espectáculo como também o resto da roupa. Eles ficaram nus e eu... gelada.

Não Se Esqueça da Escova de Dentes

O "Não Se Esqueça da Escova de Dentes" era um formato inglês. Um concurso divertido, com muitos prémios à mistura, mas onde o fundamental era pregar partidas ao público.

Criámos muitos jogos novos, mas também adaptámos alguns do desafio do programa original.

Um deles foi um leilão de roupa. Quem é que trocava as peças que trazia vestidas pelos dinheiro que eu tinha na mão. A brincadeira estava, obviamente, em quanto mais íntima fosse a peça, mais valor ela teria. Apesar do ambiente efervescente do programa, nunca pensámos que alguém entrasse em ebulição.

Avançámos para o jogo sem ter a noção de que o público já estava muito à frente.

Sessenta segundos. Arranca o relógio.

Cinquenta e cinco segundos. Um rapaz oferece os boxers. Pára o relógio. Tirou-os todo encolhidinho, com uma camisa bem comprida a tapar-lhe as vergonhas, cheias de vergonha. O público ria, mas eu tinha ali um caso sério. Comecei a pensar: se em cinco segundos já me ofereceram uns boxers, desconfio que este vai ser um dos minutos mais longos da minha vida. E foi.

Quarenta e oito segundos. Alguém grita que dá a roupa toda. Pára o relógio. Eu nem queria acreditar. Fui até à plateia para ver para crer. E vi. Um lourito franzino, não satisfeito em despir-se no seu lugar, preferiu saltar alegre para a escada central da plateia e, com a maior naturalidade, lá foi tirando a roupa como se estivesse a preparar-se para o banho. Mesmo ali ao meu lado.

Ele estava nas calmas, e eu com a cabeça a mil. Ainda faltavam uns eternos quarenta e oito segundos para acabar o jogo, e já tinha um homem todo nu no estúdio. Que mais podia acontecer? E tive uma ideia. O primeiro nu vestia 36. Se aparecesse alguém que quisesse tirar a roupa toda, mas usasse um número acima ganharia o leilão.

Trinta e três segundos. Um gordinho, com ar de vestir o 42, põe um braço anafado no ar. Pára o relógio. Esse foi mais tímido a despir-se, mas, tal como no caso anterior, todos estavam risonhamente pendentes para lhe ver o pendente. Enfim, todos menos eu que comecei logo à procura de uma outra ideia para preencher os muitos segundos que ainda faltavam. E resolvi desafiar as mulheres que estavam divertidas e risonhas, mas vestidas.

Um segundo. Levou tempo a decidir-se, mas mesmo à pele uma gordinha atirou-se de cabeça, pronta a abrir-nos o peito. Pára o relógio. Maminhas ao léu, e em teoria todo o dinheiro no bolso.

Acabou o jogo e tivemos de fazer uma pausa no programa. As pessoas estavam de tal forma excitadas, que foi preciso dar-lhes tempo para se acalmarem. Já com todos mais tranquilos, achei que duas maminhas não valiam mais que duas "pilocas", e acabei por dividir o dinheiro pelos três nudistas.

Parece uma história divertida, não parece? Só que naquela altura, e apesar de taparmos o mais possível a nudez atrevida daqueles três jovens brincalhões, a polémica que se levantou, a tinta que correu provou-nos que aquele público estava muito à frente, mas os falsos pudicos com a sua sexualidade muito mal resolvida não podem ver ninguém nu que ficam logo com pele de galinha.

É que eles gostam de espreitar, não querem é admitir que vêem. Mas isso agora não interessa nada. E.. não se esqueça da escova de dentes!

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