“Cultive a beleza interior e exterior”. Este provérbio indiano significa que Deus é beleza e a beleza é Deus; Deus é verdade e a verdade é Deus. A beleza e a verdade são atributos divinos, são qualidades que devemos desenvolver e valorizar.

Quando nos aproximamos da beleza

Na Índia existe a tradição de se enfeitar o templo, de o embelezar e enriquecer para que a Divindade deseje lá morar. O acto de ornamentar o templo é uma forma de prestar tributo à Deusa, de enaltecer o aspecto feminino da criação. Por analogia, quando nos embelezamos, louvamos a beleza da criação, também presente em cada um de nós. Por isso, cuidar do nosso corpo, da nossa aparência e cultivar interiormente qualidades é uma forma de nos aproximarmos de um dos principais atributos da criação. E, quando nos aproximamos dessa beleza, imitando-a, procurando reproduzi-la, salientando em nós aquilo que de mais belo temos, estamos a deixar irradiar esta qualidade divina. Na verdade, toda a Natureza, toda a criação possui uma beleza que até hoje nunca conseguiu ser igualada. Por mais que tente, o melhor dos artistas não é capaz de reproduzir, fielmente, a beleza e fragrância de uma simples flor, a frescura da água ou o momento mágico do nascer ou pôr do sol. Toda a criação possui uma beleza única. Esta mesma beleza, atributo da criação, está presente no ser humano e deve ser reconhecida e honrada. Devemos seguir o exemplo da criação, salientando também a nossa beleza e tornando tudo à nossa volta igualmente belo, agradável, pois a beleza a todos atrai e faz-nos sentir bem.

Beleza interior e exterior

O culto do belo não está desfasado do culto espiritual

A beleza, (beleza interior e exterior) tal como a verdade, eleva as nossas mentes, aumenta o nosso campo de energia e traz uma agradável sensação de bem-estar. Todos gostamos de olhar para alguém bonito, bem apresentado, bem penteado, bem maquilhado, bem vestido e bem calçado. E, quando essa pessoa está em paz com a sua forma de estar na vida, transmite essa mesma beleza em todas as áreas da sua vida. Gostamos igualmente de estar em espaços bonitos, bem decorados, bem ornamentados e preservados. Somos sensíveis à beleza, porque ela nos engrandece e tem um efeito positivo na nossa mente. Faz parte da nossa tradição cultural o ritual de nos embelezarmos, por exemplo, para uma cerimónia. Na base desta tradição estão as cerimónias religiosas. O culto do belo é algo que vem de muito longe e não está desfasado do culto espiritual.

No antigo Egipto, os adornos (cosmética, óleos, perucas e jóias) eram utilizados como forma de proteção física e espiritual. O uso de maquilhagem protegia os olhos de doenças, os óleos protegiam a pele, as perucas evitavam epidemias e as jóias constituíam proteções espirituais. Na Antiguidade Grega, o culto do belo inscrevia-se na procura da perfeição no Homem. A beleza do homem media-se não só pelo seu corpo atlético, mas também pelas qualidades que revelava, e pelos conhecimentos que tinha nas mais diversas áreas do saber. A coragem e a força eram incentivadas, pois preparavam os homens para os Jogos Olímpicos. Uma educação completa previa não só as qualidades físicas como as intelectuais.

No diálogo Fedro escrito por Platão (por volta de 370 a.C.), encontramos a seguinte prece de Sócrates (469-399 a.C.): «Querido Pã e outros deuses que estais neste lugar, concedei-me a beleza interior e fazei com que meu exterior se harmonize com essa beleza espiritual. Que eu possa considerar rico o sábio e possa ter tanta riqueza quanto um homem sensato possa suportar (...)».

Na verdade, quando pela nossa forma de estar na vida e de a viver manifestamos beleza em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos, essa mesma qualidade transborda e reflete-se em todas as áreas da nossa vida. A beleza exterior torna-se apenas num complemento dessa beleza da alma. O mesmo se passa com a riqueza interior que advém da prática de valores humanos fundamentais, do dar incondicional e da sabedoria da alma. Quando estes aspectos são trabalhados interiormente respeitando sempre os princípios basilares da vivência harmoniosa em sociedade, trazem uma riqueza de uma ordem mais vasta. Por vezes, essa riqueza interior reflete-se na exterior. Quando alguém prospera na sua vida através de uma conduta correta, de uma vontade genuína de contribuir para o desenvolvimento da sociedade, a sua riqueza exterior é uma bênção divina.

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(*) Autora do livro É Possível Ser Feliz, Professora de Meditação e Conselheira

Por Maria João Viana *
mjoaoviana@netcabo.pt

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