Para muitos o inverno é uma época de boas-vindas, mas, para as pessoas com reumatismos ou dores musculoesqueléticas, esta fase resfriada e húmida do ano traz presentes natalícios antecipados. As famigeradas dores nas costas.
Prevenção
Todos os dias, as nossas costas são submetidas a uma pressão enorme. Este pilar do corpo humano sustenta o essencial do nosso peso corporal, participa em quase todos os movimentos do nosso quotidiano até à sua respiração, memorizando e acumulando todo o stress e tensões emocionais. Tensões essas que são suscetíveis de desencadear durante todo o ano dores e a chegada da estação fria contempla um lote de riscos particulares.
Falamos das costas como elemento central do esqueleto, mas é algo que pode aplicar especificamente às suas articulações.
Para isso, eis as minhas dicas:
- Mantenha-se ativo! Caminhadas, alongamentos, ginásio: chuva + frio = sofá.
- Hidrate-se: mesmo sem calor, o seu corpo precisa de água.
- Agasalhe-se: para combater o frio e o vento, use camadas de roupa.
- Mantenha uma alimentação saudável.
- Aquecimento: na atividade física ou profissional, o aquecimento muscular é essencial.
- Use um calçado adequado para evitar as quedas na neve ou chuva.
- Consulte um profissional de saúde: já percebeu que o inverno não é desculpa para as suas dores.
A meteorologia terá influência sobre as dores articulares?
Entre velhos adágios e realidade científica, a meteorologia terá influência sobre as dores articulares e os reumatismos?
O frio representa um stress maior para o nosso organismo. As mudanças de épocas são propícias ao desencadeamento de patologias de todos os tipos, congestionamentos, infeções, dores articulares, crises alérgicas, resultando de um ataque ao nosso organismo por agressões externas. Agressões externas normais, mas às quais não somos capazes de nos defender por várias razões.
É necessário relembrar que somos homeotermos, ou seja, que a nossa temperatura é uniforme em estados de saúde, os famosos 37°C. No nosso sistema musculoesquelético, as principais razões são o frio, humidade e vento que provocam uma constrição dos microvasos capilares, diminuindo o fornecimento sanguíneo aos músculos: sem oxigénio, o músculo contrai-se, inflama, torna-se rígido e doloroso. Seja dito que é o típico torcicolo, dorsalgia ou lombalgia que adjetivamos de a frigore.
Enquanto o tempo frio não origina a artrite ou outros reumatismos que pioram com a queda das temperaturas, o quadro de dor pode ser alterado.
Contudo, é importante perceber que não existe nenhum padrão, nem regra absoluta: o clima afeta pessoas diferentes de forma diferente. Redundância propositada, porque doentes reumáticos relatam preferir o frio, no que diz respeito à dor, apesar da sensação de rigidez matinal, da necessidade de aquecimento da articulação e da dificuldade em pôr o esqueleto em movimento. Outros dirão que o verão alivia. Eis a máxima do ‘nem sempre, nem nunca’.
O que diz a ciência?
Japão e Alemanha, independentemente da prova científica, dispõem de um boletim meteorológico, destacando o potencial risco de aparecimento de dores reumáticas. Do mesmo modo, numa análise linguística, na China, os dois ideogramas, compondo a palavra reumatismo, pronunciada em Mandarim por Fengshi, significam vento e humidade...
Apesar da incontestável convicção de que todos temos sobre a interferência do ‘clima’ sobre o nosso corpo, as numerosas pesquisas, desde os anos 1950, indicam a hipótese psicológica como única resposta, desde testes de predição do clima por doentes, ‘os barómetros humanos’, à análise das dores em quartos por J. Lee Hollander.
De forma geral, a pesquisa aponta para a influência da perceção acrescida das dores conquanto sem qualquer modificação do estado da articulação.
A minha teoria
Depois de alguns anos de prática clínica, os doentes que relatam conseguir prever uma baixa de temperatura ou uma onda de fortes chuvas, fazem parte inerente das conversas de consultório nesta altura do ano, assim como, a descrição do aumento de dores durante a estação mais fria até à sensação de humidade dentro dos ossos.
Talvez já tenha colocado a pergunta a si próprio.
Apesar das várias teorias, os cientistas não têm sido capazes de evidenciar a etiologia, ou seja, a causa ou o motivo exato por detrás do aumento das dores durante o inverno.
E se colocássemos de parte as condicionantes sensoriais, como o frio, a humidade, a chuva e nos interessássemos pela pressão atmosférica ou barométrica nas nossas articulações? As nossas articulações possuem inúmeros recetores nas suas terminações nervosas, capazes de avaliar e comunicar informações como temperatura, pressão, densidade... e, da mesma forma, provocarem uma resposta de dor às modificações atmosféricas. O nosso corpo é constituído por cerca de 400 articulações. As sinoviais, as mais móveis, são compostas por extremidades ósseas recobertas por cartilagem e sustentadas por ligamentos que delimitam uma cavidade: a cápsula articular, contendo uma substância viscosa e lubrificante. O joelho ou as apófises articulares da coluna vertebral são deste tipo.
Deste modo, as depressões atmosféricas, as variações de massas de ar, podem vir a ser a explicação para a alteração da pressão dentro da articulação e, nomeadamente, no líquido sinovial e provocar um aumento de dores. Isto é, mais que o inverno ou o verão, acredito que as mudanças repentinas de pressão barométrica possam aumentar o quadro inflamatório, de sobrecarga localmente e explicar as predições ancestrais de mudanças de tempo pelo indicador de dores de joelho.
Mais que as condições climatéricas, a sedentariedade mais presente nesta estação do ano é o fator predominante de aparecimento de dores: o tempo convida a ficar por casa, no sofá, as refeições pesadas… Também poderíamos acrescentar a falta de vitamina D como uma das causas, ou talvez sejam os dias mais curtos que nos predispõem a uma moleza geral.
Nota: a osteopatia não substitui a consulta ao seu médico nem o uso de medicamentos.
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Daniel Valpaços
Licenciado em Osteopatia pelo I.P.E.O Paris
Osteopata na Clínica Privada de Guimarães
Consultório São João da Madeira
www.osteopataportugal.pt