A primeira vez nunca mais se esquece. Dure uma carreira o que durar, dê-se os milhares de entrevistas que se der e autorize-se ate a publicação da nossa biografia, não há figura publica que escape à inevitável pergunta:
Como é que começou a sua carreira? A minha começou como a de toda a gente. Por um acaso.
A minha primeira vez
A primeira vez que pisei um palco estava muito aconchegada na barriga da minha mãe. Talvez por isso o bichinho do espetáculo tenha feito sempre parte da minha vida. Primeiro como espectadora, depois como produtora, a dar tudo por tudo menos a cara.
O convite para dar tudo, até mesmo a cara, chegou por acaso e eu aceitei sem pensar que a minha vida podia mudar radicalmente. Que um foco ia passar a perseguir os meus dias.
A fama tem um preço, mas aí está uma coisa que eu não levei em consideração. Contabilizei apenas a garantia de seis meses de trabalho fixo para viver uma experiência interessante
É que nunca acreditei que um programa diário, às cinco e meia da tarde, no então segundo canal, fosse um caso de tanta popularidade.
Todos me avisaram que a minha vida ia mudar. Houve até um amigo que me convidou em véspera da estreia para festejar o meu último dia como anónima nesta terra. Eu ri-me dele nessa noite e ele ri-se de mim até hoje.
Claro que me preparei para apresentar o programa com o rigor fervoroso que todos já me conhecem. Cada entrevista era estudada ao milímetro, a equipa escolhida a dedo, os colaboradores verdadeiros peritos nas suas respetivas áreas. Enfim, pus a minha experiência como produtora ao serviço daquela apresentadora inexperiente que, por acaso, também era eu. E tal como ainda hoje faço em cada novo formato, a gravação de programas zero é imprescindível para rodar a equipa e corrigir, com os pés na terra, todas as imprecisões antes de o programa ir para o ar.
No caso do Eterno Feminino marcámos uma semana inteira desses ensaios gravados, onde tudo foi testado até à exaustão. O programa era transmitido em direto da Telecine, ali no Príncipe Real.
Numa dessas tardes, ouvi dizer que se ia experimentar a ligação dos feixes necessários à nossa emissão em direto. Eu achei normal que se testasse a parte técnica e não me preocupei mais com isso. Apesar de me ter parecido excessivo que todas as pessoas com quem me cruzei nos corredores me tivessem dito: «Então, hoje lá vamos experimentar os feixes!» Não desconfiei que também podia haver um dia zero para testar a fama.
E lá fizemos mais um rigoroso ensaio, onde entrevistei uma série de amigos, passei por várias rubricas, enfim, muito à vontade, muito alegre, muito inconsciente.
Quando esse programa zero acabou o telefone começou a tocar. Eram os senhores da então sede da RTP na 5 de Outubro, a darem-me os parabéns, a darem-me sugestões e a darem me a noção de que todas as pessoas que trabalhavam naquele edifício tinham partilhado, através do circuito interno, aquele ensaio que eu achava só meu. O tal teste dos feixes não podia ter corrido melhor, eu é que fiquei na pior.
A sensação de exposição foi arrasadora e ao longo de todos estes anos nada me voltou a abalar tanto. Saber que se está a ser vista por milhões pode parecer assustador mas para mim sempre foi como estar em casa. Agora, achar que se está em casa e descobrir, a posteriori, que se foi visto por umas centenas de pessoas é que foi um choque de que nunca mais recuperei.
Desde esse dia, graças a Deus, os olhares das pessoas não deixaram de me perseguir, mas isso agora não interessa nada. E é esta a história da minha primeira vez! 😉
TG
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